Claudia Andujar: Flora
qui., 13 de fev.
|São Paulo
A Casa Seva, em parceria com a Galeria Vermelho e com curadoria de Ana Carolina Ralston, apresenta exposição Claudia Andujar: Flora.
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Horário e local
13 de fev. de 2025, 19:00
São Paulo, Alameda Lorena, 1257 - casa 1 - Jardins, São Paulo - SP, 01424-001, Brasil
Claudia Andujar: flora
“Nesta bacia drenada pelo rio por excelência,
mais cedo ou mais tarde há de
concentrar a civilização do globo”
Alexander Von Humboldt (1769 – 1859)
O ano era 1972. A suíça radicada no Brasil Claudia Andujar navegava pelo Rio Jari, que banha os estados brasileiros do Pará e Amapá, rumo à cachoeira de Santo Antônio. Ali, rodeada pela muralha verde e densa da floresta amazônica, sentiu a presença do sagrado. Uma comunhão pura com o silêncio. Foi como se desse um passo além da vida e pudesse, assim, confrontar a criação dos deuses. Foi ali, durante um período de idas e vindas que durou dois anos, que Andujar concebeu o que tempos depois nomeou comoFlora, série de imagens dedicada exclusivamente a celebrar a natureza, sua beleza e complexidade ambiental.
Mais de 50 anos depois desse encontro, dez desses preciosos registros podem ser vistos em ampliações que nos permitem captar parte de sua magnitude. Dividida em dois núcleos dentro da Casa Seva, espaço independente voltado à arte, natureza e sustentabilidade, a exposição Claudia Andujar: Flora permite que o espectador se confronte com cenas de forma bi e tridimensional, adentrando a flora que Andujar tanto vivenciou nos anos 70.
No primeiro momento, suas fotografias ganham o papel algodão e reforçam o uso do gênero como uma forma de se relacionar mais profundamente com o mundo. Exaltam o domínio de exposição da luz e a escolha por uma linguagem poética, que transcende o registro em si. É possível notar seu recorrente uso de filtros de cor, que deram aotrabalho um caráter extremamente autoral e reconhecível. Destaca-se neste núcleo o tríptico “Mourera áspera”, composto por três imagens sequenciais da planta aquática típica da América do Sul e encontrada principalmente em grandes rios com corredeiras, com o do Jari. A obra pontua outra particularidade de Andujar, a de fotografar várias vezes e de diferentes ângulos a mesma cena criando movimento em seus fotogramas – forma que amplia a experimentação visual, tornando-a mais profunda e abrangente, quase como um filme.
Em um segundo momento, a mostra visa evidenciar a linguagem onírica e arepresentação simbólica que a artista buscava expressar. A projeção de três fotografias da série em grandes tecidos permite criar um ambiente de experimentação, no qual o visitante pode se inserir na paisagem e caminhar por meio dela. As imagens projetadas misturam-se no espaço, enfatizando o caráter etéreo e de sonhos proposto por Andujar.
Mas, como nos relembra a artista, encantos assim também nos oferecem recados. As fotografias, que mostram a floresta alheia da interferência humana, foram publicadas na época em uma edição especial sobre a Amazônia da revista Realidade. Seu objetivo era, entre outros, encantar os leitores e enfatizar o cuidado necessário com a região, assombrada pela construção da Transamazônica e por uma imensa devastação ambiental. O objetivo desta mostra segue os princípios de Andujar. Encantar os olhos em direção à preservação, porque, como ela mesmo diz, “sem a natureza não dá para continuar a viver”.
Ana Carolina Ralston
curadora